Nos últimos dias 18 e 19 de outubro, moradores do ABC Paulista participaram do curso de montagem e instalação do Aquecedor Solar de Baixo Custo (ASBC), promovido pelo projeto Células de Transformação em parceria com a Sociedade do Sol.
Os participantes aprenderam aspectos teóricos do sistema, como o princípio de funcionamento, dimensionamento e instalação, além da montagem, na prática, dos coletores solares e do reservatório de água.
Para facilitar o entendimento dos conceitos, uma família da região topou ceder a casa para a instalação do Aquecedor Solar de Baixo Custo. Morador do Jardim Primavera, em Santo André (SP), Almerindo Oliveira ficou satisfeito em saber que a sua conta de energia elétrica deve baixar. “Ainda falta terminar a instalação do reservatório, mas eu já gostei só pela economia que vamos fazer”, conta.
Para a esposa de Almerindo, Osvaldina Oliveira, os benefícios vão além do bolso. “Com essa falta de chuva, todos temos que colaborar com a natureza. A gente cobra muito do governo, mas tem coisa que podemos fazer em casa para contribuir”, explica.
O eletricista residencial Samuel Augusto da Silva, também morador de Santo André, gostou do que aprendeu. “Eu não conhecia o ASBC e, com o curso, poderei aplicar tanto na minha casa, quanto na residência de outras pessoas. É uma oportunidade para eu ampliar a minha área de atuação”, afirma ele, que também pretende instalar o sistema no salão de beleza da esposa.
Além de aumentar a renda, resultado da economia na conta de energia, e de colaborar com o meio ambiente, o ASBC é muito importante porque torna a família que o utiliza menos dependente das distribuidoras de energia elétrica, já que o chuveiro passa a ser aquecido por um recurso abundante e de graça.
O sistema
Criado por dois brasileiros e um português, o ASBC é composto por placas e canos de pvc, um reservatório de água (uma caixa d’água termicamente isolada) e chuveiro elétrico, que só apela para a eletricidade quando a pessoa quer temperaturas mais altas. O princípio de funcionamento é o mesmo do sistema convencional de aquecimento solar de água, com a diferença que pode ser montado pelo próprio usuário e com materiais facilmente encontrados.
O funcionamento do sistema se inicia quando a energia solar irradiante incide sobre a superfície preta dos coletores, feitos com placas de forro de pvc. A luz e o infravermelho são absorvidos, transforma-se em calor e aquece a água que está no interior dos coletores. Aquecida, ela diminui de densidade e começa a se movimentar em direção à caixa, dando início a um processo natural de circulação da água, denominado termo-sifão (assista a este vídeo que ilustra o funcionamento de maneira bem didática).
O ASBC custa em torno de R$ 500 – bem mais barato que o sistema convencional, que pode custar de R$ 2 a 6 mil. A economia na conta de luz, que varia de 30 a 40%, permite o retorno do investimento em 4 a 8 meses. “As condições climáticas no Brasil, que possui um dos maiores índices de irradiação solar do planeta, são extremamente propícias à utilização dessa alternativa de geração de energia limpa, gratuita e renovável”, explica o alemão Lutz Michaelis, que ministrou as aulas e defende o uso do ASBC em sua tese de mestrado em energias renováveis.
Importância
Além de impactar no bolso e colaborar com o meio ambiente, o ASBC alivia o sistema elétrico nacional – os chuveiros elétricos utilizam de 7 a 10% do total de energia produzida no país – e contribui para a autonomia energética da família que o utiliza. No atual momento de escassez de chuvas, com os baixos níveis das usinas hidrelétricas e o consequente acionamento das termelétricas, que lançam gás carbônico na atmosfera, a importância do sistema popular fica ainda maior. Mais do que nunca, é imprescindível diversificar a matriz energética a partir de fontes renováveis.
“A situação atual aumenta a disputa pela água, cuja falta traz impacto na geração de energia elétrica. Se mais casas tivessem o ASBC, isso permitiria que a água fosse utilizada menos para geração de energia, e mais para o abastecimento”, afirma Gustavo Cherubina, presidente da Sociedade do Sol, organização sem fins lucrativos que se dedica ao desenvolvimento de tecnologias sociais nas áreas de energia solar e renovável e programas de educação ambiental.
Recentemente, a Sociedade do Sol foi um dos sete projetos brasileiros selecionados pela Yunus Negócios Sociais para serem incubados ou acelerados, o que pode ajudar a difundir a tecnologia brasileira para outros países do mundo, principalmente na África. A Yunus Negócios Sociais foi fundada pelo bengalês Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006.
Quer saber com detalhes como montar e instalar o ASBC? Acesse o link no site da Sociedade do Sol. Qualquer pessoa pode baixar o manual, sem custo nem cadastro.
CdT Taioca 